sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

EVOLUÇÃO DA MULHER

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Cecília Meireles









Motivo

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.
Cecília Meireles





terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Cecília Meireles




A Folha na Festa

                                   Cecília Meireles

Não é da floresta.
Esta flor é da festa
Esta é a flor da giesta.
É a festa da flor
E a flor está na festa.
(E esta folha?
Que folha é esta)
Esta folha não é da giesta.
Não é folha de flor.
Mas está na festa.
Na festa da flor
Na flor da giesta.

Tantas Minas Gerais




Nostalgia de mineiro

Quantas saudades
Quantas andanças
Quantos amigos, Minas Gerais.

Quantas porteiras
Tanta poeira
Tanta canseira, Minas Gerais.

Quantas histórias
Quantas memórias
Tanta saudade Minas Gerais

Quantas saudades
Tantas porteiras
Quantas bobeiras
Minas Gerais.

Olívio Cerqueira – verão de 2011!

domingo, 2 de janeiro de 2011

PEDAÇO DE MIM













PASSÁRGADA




Vou-me Embora pra Pasárgada

Manuel Bandeira



Vou-me embora pra Pasárgada

Lá sou amigo do rei

Lá tenho a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada

Aqui eu não sou feliz

Lá a existência é uma aventura

De tal modo inconseqüente

Que Joana a Louca de Espanha

Rainha e falsa demente

Vem a ser contraparente

Da nora que nunca tive

E como farei ginástica

Andarei de bicicleta

Montarei em burro brabo

Subirei no pau-de-sebo

Tomarei banhos de mar!

E quando estiver cansado

Deito na beira do rio

Mando chamar a mãe-d'água

Pra me contar as histórias

Que no tempo de eu menino

Rosa vinha me contar

Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo

É outra civilização

Tem um processo seguro

De impedir a concepção

Tem telefone automático

Tem alcalóide à vontade

Tem prostitutas bonitas

Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste

Mas triste de não ter jeito

Quando de noite me der

Vontade de me matar

— Lá sou amigo do rei —

Terei a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada. !